sexta-feira, 23 de julho de 2010

ALMAS DESENCONTRADAS



Solitário, Era a minha maldição… Os bosques, montanhas e praias eram os meus recantos. Mas sentia algo dentro de mim, como tivesse de correr… Seria da dor do vazio, da tristeza e solidão?
O meu estado era tão confuso, os pesadelos e a agonia, deixavam-me num estado de loucura… Já não tinha noção do que era real. Aquela toca que tem uma arvore caída como telhado, é onde sinto-me seguro.
Tenho falta em sentir o vento deslizando em meu pelo quando corro, com alegria e vontade…
Tenho falta de sentir a água fresca do rio, que saciava a minha sede…
Sinto a falta de soltar os meus lamentos, alegrias e ternuras á Lua!
Sinto a falta do conforto e felicidade…
Sinto a falta se não ser apenas eu aquecer este lugar, onde vive a minha diária perdição. Vagueio procurando algo…
Algo que me chama, mas sem rasto… O meu instinto parece estar a enlouquecer-me.
Por diversas vezes estive perto da morte. Sai demasiadas vezes do meu bosque, onde caçadores famintos em fazer mira, em a sua cegueira por pouco me tombava. Mas nem sei entender estas minhas súbitas loucuras, que sabia e transpirava a desespero em ir ao encontro de algo.
Certo dia acordei em sobressalto, o meu coração batia como nunca antes batera, preparado para explodir a qualquer momento. Corri instintivamente como um lobo, se algo urgentemente dependesse disso. Ouvi gritos de alguém desesperado e segui sem perder um único instante. Deparo-me com vários homens, a tentar abusar de uma jovem inocente e frágil. Sem pensar duas vezes, atirei-me a eles para a defender.
Foi uma visão inesperada e assustadora para aqueles monstros humanos. O pânico foi imediato por não esperarem o meu ataque. Agora era a vez deles em gritar e desesperar.
O sangue que jorrava das minhas dentadas, foi uma visão de um campo de batalha. Na tentativa de tentarem resolver a mal, ainda fizeram uma última investida. Um deles conseguiu alcançar uma espingarda, disparando!
Mantive-me sempre por perto da rapariga, sentia que ela corria perigo de vida. Não iam permitir que ela permanece-se uma prova viva.
Contra ataquei com os meus dentes a desfazer mais carne. Agora fugiam entre a vegetação em arrepiantes gritos, sofrimento e medo!
Sem perder tempo mordi a sua saia e puxei-a dali. A rapariga me seguia, não parando de chorar pelo pânico que se instalou nela. Parou e abraçou-me, mimava-me e olhei para ela com ternura, uivei!
Meus olhos choravam, lambi o seu rosto molhado pelas lágrimas que não paravam em cair.
Seus olhos foram o meu sossego, eu já não sentia mais agonia ou desespero interior. Aquele anjo humano não parava de me abraçar e acariciar, agradecendo com tanta alegria e força renascida. Sai do perto dela, olhei chorando em seus olhos e nesse instante o meu corpo caiu inerte na areia. Ela repara nesse momento que tem sangue nos braços. Grita “- Não!".
Ouve a minha respiração ofegante, aliada a uma calma na minha alma. A rapariga chorava desesperadamente.
Olhei para ela com ternura e beijei a sua mão. Já não ouvia a sua voz doce com nitidez e vislumbrava uma intensa luz.
Nesse momento vieram recordações, imagens do que já fui! No ser humano que foi a minha existência em outras vidas e aquela jovem a estar sempre presente nessas imagens.
Afinal esperava por ela toda esta vida em que fui lobo! O meu vazio estava explicado, assim como nunca ter dito uma companheira loba.
O meu coração foi e sempre será seu! Nesse momento quando estou prestes a partir, sucede algo fantástico! A intensa luz envolve-nos e aparece outras imagens que só ela as vê.
Depois a jovem aproxima-se e fala docemente baixinho: “Meu querido e bravo Kyan, despertaram as nossas almas, para descobrirmos a verdade!...”, “...estava destinado a nos encontrar de novo em outra vida, nesta vida, mas não assim desta forma.
Amar-te-ei para sempre, vai em paz!...”
A luz desapareceu perante a tristeza da rapariga, deitada sem vontade para viver!
De súbito sentiu um leve toque no ombro, virou-se assustada para trás com os seus olhos a não acreditar no que via:
Um rapaz sem roupa perdendo sangue.
“- Voltei por ti meu amor!”
Sem pensar duas vezes, rasgou as suas meias para estancar o ferimento de bala.
Depois pegou nele pelo ombro, levando-o até ao carro que ainda se encontrava à entrada do parque.
A caminho do hospital, aqueles grandes e belos olhos de menina mulher, brilhavam pela felicidade que não estava perdida!
“- Por favor não morras meu querido!”
Olhei para ela com um sorriso.
“- Não vou morrer uma segunda vez tão cedo minha loba!”

FIM

(Imagem "Wolf Woman" by ~wolfkaje em http://www.deviantart.com/)